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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

NIILISMO


NIILISMO - do latim nihil, vácuo, vazio, nada, nadismo.
               
É a desvalorização e a morte do sentido, a ausência de finalidade e de resposta ao “porquê”? Trata-se uma filosofia onde os valores tradicionais são depreciados e os princípios e critérios absolutos simplesmente são dissolvidos.
                As primeiras ocorrências do termo remontam à Revolução Francesa, quando foram definidos como niilistas os grupos que não eram nem contra nem a favor da Revolução.
                Na Rússia, no campo social e político, o niilismo designava um movimento de rebelião contra a ordem estabelecida, o atraso, o imobilismo da sociedade e seus valores.
                Mas foi com Nietzche que a reflexão filosófica sobre o niilismo alcançou o seu ápice. Ele mesmo se intitulava o primeiro niilista.
                Por se tratar de uma postura negativa, só podemos entendê-la, depois de termos consciência do que ela nega, afinal lidamos com o suprassumo da subjetividade, podendo ser aplicado de várias maneiras:

·         Niilismo político – anarquismo, descrença em qualquer modelo político;
·         Niilismo moral – negação de qualquer referência moral, ateísmo;
·         Niilismo epistemológico – nada pode ser conhecido ou comunicado
·         Niilismo existencial – a existência em si mesma não tem qualquer fundamento, valor, sentido ou finalidade. Neste aspecto viver é algo tão sem sentido quanto morrer, estamos aqui pelo mesmo sentido das pedras, ou seja, nenhum, as pedras pelo menos duram mais.

                Tido como um pensamento independente, totalmente livre de preconceitos e sem respeito à autoridade e às tradições. Principalmente em se tratando de autoridade religiosa, tida como ilusória e ignorante.
                Na verdade o niilismo nega a filosofia, bem como a possibilidade de conhecimento, ética, beleza, realidade, nega a si mesmo, ou seja, o niilismo avança para a absoluta negação de tudo. Nenhuma afirmação possui validade, nada tem significado, tudo é dispensável, i.e., apenas existe.
                Como conceito filosófico, influencia as mais diferentes esferas do mundo contemporâneo: literatura, arte, ciências humanas, teorias sociais, a ética e a moral.

                Alguns expoentes do Niilismo:

à Ernest Hemingway ( 1899 – 1961)
o   Escritor, “ O velho e o mar”.
à Samuel Beckett (1906 – 1989)
o   Visão pessimista acerca do fenômeno humano;
o   Um dos principais autores do teatro do absurdo;
o   Obra mais famosa “Esperando Godot”, Fim de jogo, são exemplos exponenciais na arte dramática;
o   Sua arte niilista talvez tenha alcançado o seu auge em Breath (Suspiro).
à Douglas Adams (1952 - 2001)
o   Escritor, professor, autor de série de rádio na BBC, jogos, livros, filmes;
o   “O guia do mochileiro das galáxias”; Monty Python – humor nonsense;
o   Ateísta radical depois de entender a teoria da evolução de Darwin;
o   Richard Dawkins, dedicou-lhe o livro “The God Desilusion”.
à Kurt Vonegut (1922 – 2002)
o   Autor de romances, ensaios, peças de teatro.
à Franz Kafka (1883 – 1924)
o   Escritor de ficção;
o   As suas obras estão entre as mais influentes da literatura ocidental.
à Ingmar Bergman - filme Morangos Silvestres, aborda a questão da culpa sem solução.

                Para o homem, o propósito de vida, a essência do saber, o fundamento ético, o valor da existência, sempre vai depender de Deus. O começo do fim é deixar esta verdade de lado, e buscar por esforços próprios, outras fontes para saciar esta necessidade.
                Em Jeremias 2:13 é constatada a existência de uma sede de Deus que só Ele pode saciar (cf Jo 7.37). Esta atitude divina sempre está ligada ao poder da Sua Palavra, à presença constante e atuante do Espírito Santo. Caso contrário, após tentativas infrutíferas de buscar respostas por nós mesmos, desconsiderando Deus, o que resta é um vazio e sentimento de nulidade. Esta é a característica do Niilismo, sentimentos como desespero, ansiedade e tédio.
                Se no Naturalismo (e mesmo no Deísmo) a alegação de um sistema fechado, sem perspectiva de influência tanto do homem quanto de Deus já trazia perda de significância e de propósito à vida do homem, quanto mais no Niilismo!
                A total falta de sentido, de propósito e de valor no niilismo dá ao ser humano o valor de um ser morto. A vida deste ser humano é o “fôlego” da peça de Beckett e não a vida que Deus soprou no primeiro homem lá no Jardim do Éden. Tudo é creditado ao acaso, que num primeiro momento pode até dar a impressão de liberdade, quando na verdade nos introduz ao absurdo.
                Embora a nossa primeira atitude diante do absurdo, seja o riso, nós como cristãos, i.e., mananciais de vida, devemos nos questionar qual é a atitude de nosso Deus. Com certeza, Deus se entristece diante da loucura do homem e trabalha no sentido de mudar esta atitude enquanto há tempo. Ler Samuel Beckett, Franz Kafka, Eugene Ionesco, Joshep Heller, Kurt Vonegutt ou Douglas Adams é começar a sentir a angustia do vazio humano, da falta de valor, falta de propósito e de significado.

Como se deu esta passagem do Naturalismo para o Niilismo?

                A primeira razão é que o Naturalismo, ironicamente nascido durante o Iluminismo, i.e., sobre uma sólida aceitação da capacidade humana de conhecer, não fornecia uma base sobre a qual o homem pudesse agir de modo significativo.
                Afinal, “somos” máquinas, parte de um sistema fechado o qual não podemos transcender e nem esperar que alguém de fora do sistema que possa nos esclarecer se realmente estamos dentro de um sistema. O niilismo então nega o transcendente, o metafísico, o sobrenatural.
                A segunda razão é que a epistemologia tornou-se uma falácia, pois o naturalista persegue um conhecimento que sempre recua diante dele, jamais poderemos conhecer.
                O niilismo leva alguns a questionar a própria realidade do Universo, i.e., nada é real, nem o próprio homem. Esta pessoa não consegue mais funcionar como um ser humano, ela surta. O diagnóstico não será niilismo metafísico ou epistemológico, mas será diagnosticado como sendo alucinação, fantasia, esquizofrenia.
                A terceira razão é a questão ética. Nietzche entendia que a razão não pode estabelecer valores, crer que ela pode é a mais estúpida e virulenta de todas as ilusões. Aqui não há sentido de justiça para a humanidade; as coisas “apenas são”.
                Estas três modalidades de niilismo (metafísico, epistemológico e ético) se unem, de maneira a moldar toda uma cultura, a qual se caracterizará por perda de significado. Acaba-se no desespero de ver a nós mesmos, aos outros e ao mundo como totalmente sem significado, sem sentido.
 Cinco razões que inviabilizam o Niilismo

1.       Tudo tem procedência, afinal temos conhecimento e temos valores éticos.
Sempre que nos lançamos a uma ação, definimos um objetivo e consequentemente afirmamos um valor para a nossa ação, ainda que esse valor seja para nós mesmos. O contrário seria uma falta de valor das ações, tanto faria ir ao cinema ou cometer suicídio, ora isto não é viável, ninguém vive assim, nem mesmo o niilista.

2.       Toda vez que um niilista pensa e confia em seu pensamento está sendo inconsistente com a sua filosofia.
A própria afirmação de que “nada tem sentido”, carece de sentido, pois se significasse alguma coisa, seria falso. Se alguém levar a sério o seu niilismo, fatalmente seria tratado como paciente e seria internado.

3.       Mesmo que um tipo de niilismo prático seja possível por um tempo, o limite é finalmente alcançado.
Para se negar a Deus, é preciso haver um Deus para ser negado. Um niilista praticante deve ter algo contra o que batalhar, senão ele se torna um parasita, alguém sem energia quando não há nada a ser negado. O cínico sai da discussão quando é o último a sobrar.

4.       A arte para ser arte precisa ter uma estrutura, o que implica em um significado, portanto deixa de ser niilista.
Um amontoado de pedras, um monte de ferro velho não é arte, pois não possui estrutura nem significado. Muito da arte moderna, literatura, pintura, teatro, cinema, extrai do niilismo a sua ideologia, e muito desta arte é excelente pelas referencias tradicionais da arte.
Aí está o paradoxo, pois elas tem significado e estrutura, portanto deixam de ser niilistas, pois para serem expoentes do niilismo precisariam deixar de ser obras de arte.

5.       O niilismo apresenta severos problemas psicológicos.
Cada fibra de nosso ser clama por sentido, valor e dignidade; o anseio em receber esse reconhecimento em conjunto com a recusa intransigente de satisfazer esse anseio, resulta numa condição espiritual desesperadora.
·         Friedrich Nietzche – Terminou seus dias num asilo;
·         Ernest Hemingway – confirmou seu “estilo de vida” cometendo suicídio;
·         Samuel Beckett – dedica-se a escrever comédias de humor negro;
·         Vanegutt e Adams – têm existências bizarras (Adams faleceu em 2001);
·         Kafka, talvez o maior artista entre todos, viveu uma vida de tédio, escrevendo romances e histórias que terminavam em um prolongado clamor.

Deus está morto! Deus está morto! Não esta?
Quero dizer, certamente que está, não?
Deus está morto. Oh. Como eu gostaria que não estivesse!

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