NIILISMO - do latim nihil,
vácuo, vazio, nada, nadismo.
É a desvalorização e a morte do sentido, a ausência
de finalidade e de resposta ao “porquê”? Trata-se uma filosofia onde os
valores tradicionais são depreciados e os princípios e critérios absolutos simplesmente são dissolvidos.
As
primeiras ocorrências do termo remontam à Revolução Francesa, quando foram
definidos como niilistas os grupos que não eram nem contra nem a favor da
Revolução.
Na
Rússia, no campo social e político, o niilismo designava um movimento de
rebelião contra a ordem estabelecida, o atraso, o imobilismo da sociedade e
seus valores.
Mas foi
com Nietzche que a reflexão filosófica sobre o niilismo alcançou o seu ápice.
Ele mesmo
se
intitulava o primeiro niilista.
Por se
tratar de uma postura negativa, só podemos entendê-la, depois de termos
consciência do que ela nega, afinal lidamos com o suprassumo da subjetividade,
podendo ser aplicado de várias maneiras:
·
Niilismo político – anarquismo, descrença em qualquer modelo
político;
·
Niilismo moral – negação de qualquer referência moral,
ateísmo;
·
Niilismo epistemológico – nada pode ser conhecido ou
comunicado
·
Niilismo existencial – a existência em si mesma não tem
qualquer fundamento, valor, sentido ou finalidade. Neste aspecto viver é algo
tão sem sentido quanto morrer, estamos aqui pelo mesmo sentido das pedras, ou
seja, nenhum, as pedras pelo menos duram mais.
Tido como
um pensamento independente, totalmente livre de preconceitos e sem respeito à
autoridade e às
tradições. Principalmente em se tratando de autoridade religiosa, tida como
ilusória e ignorante.
Na
verdade o niilismo nega a filosofia, bem como a possibilidade de conhecimento,
ética, beleza, realidade, nega a si mesmo, ou seja, o niilismo avança para a
absoluta negação de tudo. Nenhuma afirmação possui validade, nada tem significado,
tudo é dispensável, i.e., apenas existe.
Como
conceito filosófico, influencia as mais diferentes esferas do mundo
contemporâneo: literatura,
arte, ciências humanas, teorias sociais, a ética e a moral.
Alguns expoentes do Niilismo:
à
Ernest Hemingway ( 1899 –
1961)
o
Escritor, “ O velho e o mar”.
à
Samuel Beckett (1906 – 1989)
o
Visão pessimista acerca do fenômeno humano;
o
Um dos principais autores do teatro do absurdo;
o
Obra mais famosa “Esperando Godot”, Fim de jogo, são
exemplos exponenciais na arte dramática;
o
Sua arte niilista talvez tenha alcançado o seu auge
em Breath (Suspiro).
à
Douglas Adams (1952 - 2001)
o
Escritor, professor, autor de série de rádio na BBC, jogos,
livros, filmes;
o
“O guia do mochileiro das galáxias”; Monty Python – humor
nonsense;
o
Ateísta radical depois de entender a teoria da evolução de
Darwin;
o
Richard Dawkins,
dedicou-lhe o livro “The God Desilusion”.
à Kurt Vonegut (1922 – 2002)
o
Autor de romances, ensaios, peças de teatro.
à
Franz Kafka (1883 – 1924)
o
Escritor de ficção;
o
As suas obras estão entre as mais influentes da literatura
ocidental.
à
Ingmar Bergman - filme Morangos Silvestres, aborda a
questão da culpa sem solução.
Para o homem, o
propósito de vida, a essência do saber, o fundamento ético, o valor da
existência, sempre vai depender de Deus. O começo do fim é deixar esta verdade
de lado, e buscar por esforços próprios, outras fontes para saciar esta
necessidade.
Em Jeremias 2:13 é
constatada a existência de uma sede de Deus que só Ele pode saciar (cf Jo
7.37). Esta atitude divina sempre está ligada ao poder da Sua Palavra, à
presença constante e atuante do Espírito Santo. Caso contrário, após tentativas
infrutíferas de buscar respostas por nós mesmos, desconsiderando Deus, o que
resta é um vazio e sentimento de nulidade. Esta é a característica do
Niilismo, sentimentos como desespero, ansiedade e tédio.
Se no Naturalismo (e mesmo no Deísmo) a alegação
de um sistema fechado, sem perspectiva de influência tanto do homem quanto de
Deus já trazia perda de significância e de propósito à vida do homem, quanto
mais no Niilismo!
A total falta de
sentido, de propósito e de valor no niilismo dá ao ser humano o valor de um ser
morto. A vida deste ser humano é o
“fôlego” da peça de Beckett e não a vida que Deus soprou no primeiro homem lá
no Jardim do Éden. Tudo é creditado
ao acaso, que num primeiro momento pode até dar a impressão de liberdade,
quando na verdade nos introduz ao absurdo.
Embora a nossa primeira atitude diante do
absurdo, seja o riso, nós como cristãos, i.e., mananciais de vida, devemos nos
questionar qual é a atitude de nosso Deus.
Com certeza, Deus se entristece diante da loucura do homem e trabalha no
sentido de mudar esta atitude enquanto há tempo. Ler Samuel Beckett, Franz Kafka, Eugene Ionesco, Joshep Heller, Kurt
Vonegutt ou Douglas Adams é começar a sentir a angustia do vazio humano, da
falta de valor, falta de propósito e de significado.
Como se deu esta passagem do
Naturalismo para o Niilismo?
A primeira razão é que o Naturalismo,
ironicamente nascido durante o Iluminismo, i.e., sobre uma sólida aceitação da
capacidade humana de conhecer, não fornecia uma base sobre a qual o homem
pudesse agir de modo significativo.
Afinal, “somos”
máquinas, parte de um sistema fechado o qual não podemos transcender e nem
esperar que alguém de fora do sistema que possa nos esclarecer se realmente estamos
dentro de um sistema. O niilismo então nega o transcendente, o metafísico, o
sobrenatural.
A segunda razão é que a epistemologia
tornou-se uma falácia, pois o naturalista persegue um conhecimento que sempre
recua diante dele, jamais poderemos conhecer.
O niilismo leva
alguns a questionar a própria realidade do Universo, i.e., nada é real, nem o
próprio homem. Esta pessoa não consegue mais funcionar como um ser humano, ela
surta. O diagnóstico não será niilismo metafísico ou epistemológico, mas será
diagnosticado como sendo alucinação, fantasia, esquizofrenia.
A terceira razão é a questão ética.
Nietzche entendia que a razão não pode estabelecer valores, crer que ela pode é
a mais estúpida e virulenta de todas as ilusões. Aqui não há sentido de justiça
para a humanidade; as coisas “apenas são”.
Estas três
modalidades de niilismo (metafísico, epistemológico e ético) se unem, de
maneira a moldar toda uma cultura, a qual se caracterizará por perda de
significado. Acaba-se no desespero de ver a nós mesmos, aos outros e ao mundo
como totalmente sem significado, sem sentido.
Cinco razões que inviabilizam o Niilismo
1. Tudo tem procedência, afinal temos
conhecimento e temos valores éticos.
Sempre que nos
lançamos a uma ação, definimos um objetivo e consequentemente afirmamos um
valor para a nossa ação, ainda que esse valor seja para nós mesmos. O contrário
seria uma falta de valor das ações, tanto faria ir ao cinema ou cometer
suicídio, ora isto não é viável, ninguém vive assim, nem mesmo o niilista.
2. Toda vez que um niilista pensa e confia em
seu pensamento está sendo inconsistente com a sua filosofia.
A própria
afirmação de que “nada tem sentido”, carece de sentido, pois se significasse
alguma coisa, seria falso. Se alguém levar a sério o seu niilismo, fatalmente
seria tratado como paciente e seria internado.
3. Mesmo que um tipo de niilismo prático seja
possível por um tempo, o limite é finalmente alcançado.
Para se negar a
Deus, é preciso haver um Deus para ser negado. Um niilista praticante deve ter
algo contra o que batalhar, senão ele se torna um parasita, alguém sem energia
quando não há nada a ser negado. O cínico sai da discussão quando é o último a
sobrar.
4. A arte para ser arte precisa ter uma
estrutura, o que implica em um significado, portanto deixa de ser niilista.
Um amontoado de
pedras, um monte de ferro velho não é arte, pois não possui estrutura nem
significado. Muito da arte moderna, literatura, pintura, teatro, cinema, extrai
do niilismo a sua ideologia, e muito desta arte é excelente pelas referencias
tradicionais da arte.
Aí está o
paradoxo, pois elas tem significado e estrutura, portanto deixam de ser
niilistas, pois para serem expoentes do niilismo precisariam deixar de ser
obras de arte.
5. O niilismo apresenta severos problemas psicológicos.
Cada fibra de
nosso ser clama por sentido, valor e dignidade; o anseio em receber esse
reconhecimento em conjunto com a recusa intransigente de satisfazer esse
anseio, resulta numa condição espiritual desesperadora.
·
Friedrich Nietzche – Terminou seus dias num
asilo;
·
Ernest Hemingway – confirmou seu “estilo de
vida” cometendo suicídio;
·
Samuel Beckett – dedica-se a escrever comédias
de humor negro;
·
Vanegutt e Adams – têm existências bizarras
(Adams faleceu em 2001);
·
Kafka, talvez o maior artista entre todos, viveu
uma vida de tédio, escrevendo romances e histórias que terminavam em um
prolongado clamor.
Deus está morto! Deus está morto! Não esta?
Quero dizer, certamente que está, não?
Deus está morto. Oh. Como eu gostaria que
não estivesse!
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